segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Intenção


Há alguns dias atrás eu estava no ônibus. Normalmente me sento em lugares que não dificultem a minha saída do transporte público. Tenho alguns costumes no ônibus. Se tiver alguma mulher de pé eu não me sento, se eu estiver sentado tendo pegar o máximo de bolsas e mochilas que eu puder levar (seja de homem ou de mulheres) e principalmente fui educado e acostumado a ceder lugares para pessoas mais velhas e idosos. Geralmente prefiro ficar em pé do que sentar nos assentos preferenciais (já me assentei algumas vezes, mas não me sinto a vontade). Parto da ideia de que todos os assentos são preferenciais, então com isso sempre que possível, dou lugares a idosos que passam para a parte de trás do ônibus.
Neste dia eu fiquei sentado no lugar compartilhado com o espaço para pessoas com cadeira de rodas. Chegou um senhor ficou de pé ao meu lado. Ofereci o lugar para ele e esse disse que não queria, que eu poderia ficar sentado. Naquele mesmo instante pensei em uma máxima de nossa sociedade que é a questão da intenção. Muito se diz que "quem quer dar, não oferece", mas eu não sei se as coisas funcionam assim.
Eu poderia muito bem ao invés de oferecer simplesmente me levantar e dizer a ele: "Sente-se!", porém isso já me deixou em situações constrangedoras. Uma vez eu levantei para dar lugar a um senhor e uma mulher quis sentar, eu precisei dizer: "Estou cedendo lugar para o senhor e não para você!". Então com isso eu prefiro hoje em dia oferecer o meu lugar do que simplesmente levantar. Mas, será que realmente ele queria ficar em pé? Ele realmente queria que eu ficasse sentado? Ou será que ele pensou: "Se ele quisesse dar lugar, não ofereceria, ficaria de pé!"?
Quando eu desci, ele ocupou o lugar que outrora eu havia oferecido. Minha dúvida aumentou. Talvez ele tenha se cansado, ou então agora ele quis sentar e antes não queria, ou pode ser que realmente o meu "Quer ser sentar?" não deu a ele muita confiança.
Desde a minha infância nunca fui de aceitar as coisas, por educação. Não me questionava se a intenção da pessoa era dar realmente ou se ela estava oferecendo por educação. Se ela queria dar ou não, eu não sabia, mas para o sim ou para o não eu nunca fui de aceitar nada. Hoje em dia eu mudei um pouco esta forma de ver, pois parto de outro princípio que se ela oferece é porque quer dar. Haverá pessoas que não querem dar é claro que há, mas por saber que será minoria, parto deste princípio. Algo parecido com a abordagem interpretativa da filosofia da Linguagem, mais precisamente com o princípio de caridade do Donald Davidson, filósofo analítico americano (mais sobre a filosofia de Davidson, clique aqui).
Não acho que é bom para nós seres humanos pensarmos que as pessoas nunca querem o bem, ou que suas intenções nunca são boas. Sabedoria é importante para saber distinguir uma coisa da outra. Generalização tanto para um lado quanto para outro não é bom. Se assumir que toda a intenção (partindo da ideia de que a intenção em si não é nem boa, nem ruim, ela é apenas um movimento para uma ação) é boa terá muitos problemas e sofrerá vários males. Se assumir que toda intenção é ruim, você não conseguirá aceitar (não apenas no sentido de aceitar um biscoito ou um lugar no ônibus, mas até um "Bom dia!", será um mau grado) nada de ninguém nunca.
A grande maioria dos sistemas de pensamentos do mundo colocam a o meio termo com algo agradável. Todo exagero é condenado. Posso falar da filosofia grega e do Cristianismo. Por exemplo a beleza exacerbada de Helena, causou a guerra de Troia (saiba como clicando aqui). No livro de Eclesiastes diz: "Não sejas demasiadamente justo, nem exageradamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo? Não sejas demasiadamente perverso, nem sejas louco; por que morrerias fora do teu tempo? Bom é que retenhas isto e também daquilo não retires a mão;"(vs. 16-18a).
Então espere o bem das pessoas. Se alguém permitir a sua passagem, passe. Se alguém te oferecer um lugar no ônibus, aceite ou então negue com sinceridade, não porque acha que ela não quer te dar o lugar, mas sim porque realmente prefere ficar de pé, ou por outro motivo. Se esperarmos o bem o bem teremos, até se vermos uma situação má, veremos o seu bem depois.
Quem bem possa vir a vocês! E isso não depende das outras pessoas! O bem se encontra nos olhos de quem sabe ver! ;)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

o homem e Ele


Ser altivo que a tudo procura
O que fazer? Há cura?
Permanece sem nada encontrar
E ainda não cessa de procurar

A tudo abraça
e a nada retém
Permanece seguindo a caça
ainda que não lhe faça bem.

Sabe do seu limite
e ainda que existência o risque
Permanece a sua lembrança
de ser que nada alcança.

A resolução busca
por forças próprias
Permanece a angústia
de sozinho não sair das provas.

Eis que está escrito:
"Aquilo que é torto não se pode endireitar"
Permanece o entendimento
que só Ele pode dar!

Por ele não há nada a fazer
Pobre homem, o que te custa entender?
Permanece o reconhecimento
Que tudo só Ele pode fazer.